25/08/2011

Pauê, triatleta biamputado e campeão mundial.


A cena é impressionante. Paulo Eduardo Chieff Aagaard, o Pauê, entra no mar com uma prancha de surfe. Biamputado, caminha sem o auxílio das próteses, apoiado no que restou de suas pernas, na altura dos joelhos. Ele não se intimida e assim pega onda, nada, pedala, pratica canoagem e corre. Corre muito. Tanto que seus planos agora são participar do triatlo nas Paraolimpíadas e de um Ironman.
- Difícil saber como seria a minha vida sem o acidente. Era adolescente, tinha planos. Meu sonho era estudar na área da saúde e praticar esportes. Isso eu consegui. Além das atividades físicas, sou formato em fisioterapia - conta Puê, de 29 anos. - Eu me comunico por meio do esporte. É minha oração, meu lazer, minha vida.
Esta história começou em 8 de junho de 2000. Pauê, aos 18 anos, atravessava uma linha férrea desativada, perto de sua casa, para ir nadar em uma academia. Mas uma locomotiva andava, sorrateiramente, à noite, com faróis desligados.
- Era como atravessar uma rua sem saída. Sabia que não tinha movimento. Não olhei para os lados. Ouvi um ruído e, quando me virei, só vi um vulto - descreve Pauê, que foi arrastado pela locomotiva.
O pai foi quem o acudiu. Isso porque a tal linha férrea ficava muito perto da casa da família. O acidente não o incomoda mais.
Até hoje, Pauê vai com frequência ao local, que está abandonado, com grama crescida e passagens acimentadas para os pedestres, mas preferiu mudar-se para uma casa com vista para o mar.
Foram 2 meses de internação, entre altos e baixos. O apoio da família foi essencial. Dúvidas sobre o futuro o fizeram acelerar a recuperação.
- Minha vontade de praticar esporte foi o que o ajudou. Quando saí do hospital, só pensava em voltar a nadar e surfar. Nem sabia se seria possível. Fiquei com aquilo na cabeça e corri atrás, dia após dia. Teria mais um mês para tirar os pontos e iniciar a reabilitação. No primeiro dia em casa, montamos uma academia.
No ano do acidente, Pauê disputou uma prova de natação de 1.500m. Terminou em último. Não desanimou. Tentou novamente, agora uma travessia de 8 km em mar aberto. Tudo sob olhares do treinador José Renato Borges, o Mosquito, que o ensinou a nadar de novo.
- Fiz em 2h12m. Quando saí da água, vi várias pessoas e achei que eram da organização e que estavam lá para me carregar pela praia. Que nada. Eram nadadores que terminavam a prova depois de mim. Ali vi que não teria impedimentos - lembra Pauê, pentacampeão brasileiro de triatlo (entre categorias paraolímpicas), campeão mundial em 2002 e bronze no Pan do Rio de triatlo (ambos na categoria biamputados).
Pauê teve dificuldade para se adaptar à corrida porque, no início, não usava próteses adequadas. Os encaixes o machucavam.
- Era desconfortável por causa da fricção e dos impactos diretos, que me faziam sofrer. Os encaixes devem estar harmonicamente ligados com meu corpo, precisam ser uma continuação. Se ganho ou perco peso, a influência é direta - explica Pauê, que demorou a voltar a correr. - Fui caminhando no meu primeiro triatlo. Com o tempo, aprendi a correr com as próteses convencionais. Mesmo assim, a sensação era muito ruim. Tinha limitações de marcha progressiva e me sentia travado.
Só que um desafio havia sido estabelecido: correr a São Silvestre. Ele conta que, na primeira prova, o sofrimento foi nítido. Mas desistir não é com ele. E na segunda vez, já com as próteses adequadas de corrida, o rendimento foi excelente.
- Voei baixo, fiz uma excelente prova, curti cada passada - conta ele.
Esta última participação, em 2009, foi filmada por Fábio Cappellini para o documentário " O passo de um vencedor", sobre a vida de Pauê.
Atualmente, Pauê está montando uma pedalada do Rio até Santos e uma prova de caiaque da Ilha Bela a Santos. Ele gosta de organizar eventos e dá palestras motivacionais.
- Procuro provas que me dão prazer, que consigo quebrar paradigmas, encontrando adaptações. e gosto de usar isso para inspirar outras pessoas - explica Pauê, que já escreveu livro e tem uma ONG. - Não tenho limitações. Tenho dificuldade para algumas coisas como entrar na água para surfar. Preciso tirar as minhas pernas e alguém tem de guardá-las - afirma o menino, que tem uma companheira há 6 anos - Somos um casal normal de namorados. 
Eis a pergunta que se faz diante da história contada acima: qual o seu impedimento para praticar esporte?
Baseado em reportagem de Carol Knoploch - Esportes - Pulso - 16 de julho de 2011

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